193Km
05-06-2012
Este post relata a terceira de cinco etapas de uma viagem de bicicleta do Porto a Lagos. A segunda etapa pode ser lida aqui
O
despertar foi bem cedo, por volta das 7h30. No dia anterior estivemos a
refletir sobre a etapa que tínhamos planeada para este terceiro dia e
aparentemente chegamos à conclusão de que seria estúpido fazer tantos
quilómetros de uma só vez quando poderíamos dividir esses quilómetros
pelas duas etapas seguintes. Estava portanto alinhavado um novo plano,
ficávamos por Lisboa ou, na melhor das hipóteses, por Almada poupando
cerca de 30 Km a este dia que seriam efectuados nas etapas seguintes.
Por volta das 8h tomamos o pequeno almoço numa
pastelaria da Nazaré onde aproveitei para perguntar o melhor caminho
para sair dali e ir para Lisboa, se possível sem ter de subir a
encosta toda. As empregadas da pastelaria não me souberam responder,
disseram que só sabiam o caminho pela autoestrada A8. Algo sintomático
de um país que tem uma rede de autoestradas gigantesca tanto para a área
que tem como para a população que alberga. Continuando, decidimos então
fazer o mesmo do dia anterior, ou seja, seguir pela marginal. Desta vez
tivemos sorte porque por aquela estrada evitamos uma grande subida para
sair da Nazaré e além disso esta convergia mais à frente com a estrada
Nacional 242 que passava em São Martinho do Porto e nos levaria até à N8
em direção a Caldas da Rainha.
A placa que me enganou |
Até às Caldas estava a correr bem o dia, começamos a pedalar cedo,
estávamos no rumo certo, sem nos perdermos e com uma boa média. Foi aí
que apareceu uma placa que anunciava faltarem 81 Km para Lisboa.
Adicionalmente referia que estávamos na N115. Foi talvez esta indicação
que um pouco mais à frente me induziu em erro. Como não apareciam mais
placas a indicar Lisboa, mantive-me sempre por esta estrada em vez de ir
por Óbidos. O Short vinha uns 30 metros atrás de mim e pensou logo que
aquilo ia dar merda. Quando finalmente me apercebi do erro já estávamos
nós a passar por montes e vales na Sancheira Grande. Nada a fazer,
voltar atrás nem pensar porque apesar de tudo estávamos na direção certa
e fundamentalmente porque ainda estavam bem presente as descidas pelas
quais tínhamos acabado de passar.
No Cadaval parámos para tomar o segundo pequeno
almoço e o Short aproveitou para colocar o android novamente ao serviço
verificando a que distância estávamos de Lisboa. Estávamos a 75 Km
e havíamos feito cerca de 20Km desde a célebre placa, traduzindo, ao fim
de 20Km estávamos 6Km mais próximos de Lisboa e o desvio ainda não
tinha acabado visto que ainda estávamos longe de estar de volta à N8,
que só viríamos a encontrar de novo já em Torres Vedras.
Analisando agora no mapa o desvio aparentemente não
foi assim tão grande em termos de distância já que desde as Caldas da
Rainha até Torres Vedras fizemos 53.4Km em vez dos 44.9Km
que faríamos se não tivéssemos feito este desvio, ou seja, mais 19%. Foi
no entanto enorme em termos de subida acumulada, subimos 685m em vez
dos 416m que faríamos se nos tivéssemos mantido na N8 o que dá mais 65%.
Apesar de tudo foi um percurso que nos deu um gozo tremendo de fazer,
por várias razões: pela paisagem de montanha muito bonita, pelo desafio
que é transpor montanha e por não ter quase transito nenhum, já que
raras foram as vezes que passaram carros por nós.
Por volta das 14h com cerca de 100Km efetuados e a cerca de 30Km de Lisboa parámos para almoçar.
Pausa para almoçar |
Depois
do almoço continuamos a pedalar na N8 para Lisboa. Chegados a Loures já
era notório o trânsito citadino e um pouco mais à frente em Frielas
estávamos a ver o caso mal parado, estávamos lado a lado com a
autoestrada e não estávamos a ver caminho alternativo por onde seguir.
Perguntamos direções a um motorista de autocarro que nos indicou o
caminho por Sacavém e lá partimos nós para mais uma contagem de montanha
entre Frielas e Sacavém. Uns quilómetros depois estávamos no Parque das
Nações onde aproveitamos para relaxar um pouco e tirar umas fotos.
Depois foi seguir marginal fora até ao Terreiro do
Paço onde era o primeiro cais de embarque para a margem sul. O único
destino a partir daquele cais era o Barreiro e talvez um pouco por um
misto de cansaço e preguiça nem pensamos mais e decidimos atravessar
logo ali o Tejo.
Não gozem, podem ter um filho assim... |
Por volta das 19h estávamos no Barreiro. Hora do
android trabalhar mais um bocadinho em busca de local para pernoitar.
Como não achávamos nada de jeito e eu não estava a gostar assim tanto do
Barreiro que parece uma autentica cidade dormitório a abarrotar de
prédios e carros por todo o lado, sugeri cumprirmos o plano inicial e
irmos até Setúbal. O Short achou que era loucura porque estava a
anoitecer, foi aí que referi "até às 9 é dia", havia ainda duas horas
com luz do sol para fazer 30Km. O mais difícil nesta parte foi mesmo
sair do Barreiro, toca a recorrer ao android e lá encontramos a saída do
labirinto e a partir daí foi só rolar, quase sempre a mais de
30Km/h. Cerca de uma hora depois estávamos em Setúbal a bater à porta da
Pousada da Juventude. Como somos uns tipos cheios de sorte, claro que a
pousada estava encerrada. Perguntamos a uns taxistas por um sitio para
pernoitar e estes prontamente nos aconselharam a residencial Mar e Sol visto
que é lá que costumam ficar as equipas de ciclismo quando há provas a
passar por Setúbal. Após o check-in o dono da residencial acompanhou-nos
à garagem para guardarmos as biclas e estivemos um pouco à conversa com
ele. Ficamos a saber que já foi ciclista e que chegou a patrocinar uma
equipa que corria na volta a Portugal. Contamos-lhe a viagem que estávamos a fazer e a etapa que agora descrevo, ao que comentou: "Ah, mas vocês vêm a brincar" :) Que desilusão, logo agora que estávamos mesmo mesmo a pensar numa carreira profissional no ciclismo...
Porto de Pesca em Setúbal |
Mapa aproximado do percurso do dia:
Ver mapa maior
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