segunda-feira, 25 de junho de 2012

Porto - Lagos, 3ª Etapa, Nazaré - Setúbal

193Km
05-06-2012


Este post relata a terceira de cinco etapas de uma viagem de bicicleta do Porto a Lagos. A segunda etapa pode ser lida aqui

O despertar foi bem cedo, por volta das 7h30. No dia anterior estivemos a refletir sobre a etapa que tínhamos planeada para este terceiro dia e aparentemente chegamos à conclusão de que seria estúpido fazer tantos quilómetros de uma só vez quando poderíamos dividir esses quilómetros pelas duas etapas seguintes. Estava portanto alinhavado um novo plano, ficávamos por Lisboa ou, na melhor das hipóteses, por Almada poupando cerca de 30 Km a este dia que seriam efectuados nas etapas seguintes.
Por volta das 8h tomamos o pequeno almoço numa pastelaria da Nazaré onde aproveitei para perguntar o melhor caminho para sair dali e ir para Lisboa, se possível sem ter de subir a encosta toda. As empregadas da pastelaria não me souberam responder, disseram que só sabiam o caminho pela autoestrada A8. Algo sintomático de um país que tem uma rede de autoestradas gigantesca tanto para a área que tem como para a população que alberga. Continuando, decidimos então fazer o mesmo do dia anterior, ou seja, seguir pela marginal. Desta vez tivemos sorte porque por aquela estrada evitamos uma grande subida para sair da Nazaré e além disso esta convergia mais à frente com a estrada Nacional 242 que passava em São Martinho do Porto e nos levaria até à N8 em direção a Caldas da Rainha.

A placa que me enganou

Até às Caldas estava a correr bem o dia, começamos a pedalar cedo, estávamos no rumo certo, sem nos perdermos e com uma boa média. Foi aí que apareceu uma placa que anunciava faltarem 81 Km para Lisboa. Adicionalmente referia que estávamos na N115. Foi talvez esta indicação que um pouco mais à frente me induziu em erro. Como não apareciam mais placas a indicar Lisboa, mantive-me sempre por esta estrada em vez de ir por Óbidos. O Short vinha uns 30 metros atrás de mim e pensou logo que aquilo ia dar merda. Quando finalmente me apercebi do erro já estávamos nós a passar por montes e vales na Sancheira Grande. Nada a fazer, voltar atrás nem pensar porque apesar de tudo estávamos na direção certa e fundamentalmente porque ainda estavam bem presente as descidas pelas quais tínhamos acabado de passar.

No Cadaval parámos para tomar o segundo pequeno almoço e o Short aproveitou para colocar o android novamente ao serviço verificando a que distância estávamos de Lisboa. Estávamos a 75 Km e havíamos feito cerca de 20Km desde a célebre placa, traduzindo, ao fim de 20Km estávamos 6Km mais próximos de Lisboa e o desvio ainda não tinha acabado visto que ainda estávamos longe de estar de volta à N8, que só viríamos a encontrar de novo já em Torres Vedras. 

Analisando agora no mapa o desvio aparentemente não foi assim tão grande em termos de distância já que desde as Caldas da Rainha até Torres Vedras fizemos 53.4Km em vez dos 44.9Km que faríamos se não tivéssemos feito este desvio, ou seja, mais 19%. Foi no entanto enorme em termos de subida acumulada, subimos 685m em vez dos 416m que faríamos se nos tivéssemos mantido na N8 o que dá mais 65%. Apesar de tudo foi um percurso que nos deu um gozo tremendo de fazer, por várias razões: pela paisagem de montanha muito bonita,  pelo desafio que é transpor montanha e por não ter quase transito nenhum, já que raras foram as vezes que passaram carros por nós. 

Por volta das 14h com cerca de 100Km efetuados e a cerca de 30Km de Lisboa parámos para almoçar.

Pausa para almoçar
Depois do almoço continuamos a pedalar na N8 para Lisboa. Chegados a Loures já era notório o trânsito citadino e um pouco mais à frente em Frielas estávamos a ver o caso mal parado, estávamos lado a lado com a autoestrada e não estávamos a ver caminho alternativo por onde seguir. Perguntamos direções a um motorista de autocarro que nos indicou o caminho por Sacavém e lá partimos nós para mais uma contagem de montanha entre Frielas e Sacavém. Uns quilómetros depois estávamos no Parque das Nações onde aproveitamos para relaxar um pouco e tirar umas fotos.


Depois foi seguir marginal fora até ao Terreiro do Paço onde era o primeiro cais de embarque para a margem sul. O único destino a partir daquele cais era o Barreiro e talvez um pouco por um misto de cansaço e preguiça nem pensamos mais e decidimos atravessar logo ali o Tejo.
Não gozem, podem ter um filho assim...
Por volta das 19h estávamos no Barreiro. Hora do android trabalhar mais um bocadinho em busca de local para pernoitar. Como não achávamos nada de jeito e eu não estava a gostar assim tanto do Barreiro que parece uma autentica cidade dormitório a abarrotar de prédios e carros por todo o lado, sugeri cumprirmos o plano inicial e irmos até Setúbal. O Short achou que era loucura porque estava a anoitecer, foi aí que referi "até às 9 é dia",  havia ainda duas horas com luz do sol para fazer 30Km. O mais difícil nesta parte foi mesmo sair do Barreiro, toca a recorrer ao android e lá encontramos a saída do labirinto e a partir daí foi só rolar, quase sempre a mais de 30Km/h. Cerca de uma hora depois estávamos em Setúbal a bater à porta da Pousada da Juventude. Como somos uns tipos cheios de sorte, claro que a pousada estava encerrada. Perguntamos a uns taxistas por um sitio para pernoitar e estes prontamente nos aconselharam a residencial Mar e Sol visto que é lá que costumam ficar as equipas de ciclismo quando há provas a passar por Setúbal. Após o check-in o dono da residencial acompanhou-nos à garagem para guardarmos as biclas e estivemos um pouco à conversa com ele. Ficamos a saber que já foi ciclista e que chegou a patrocinar uma equipa que corria na volta a Portugal. Contamos-lhe a viagem que estávamos a fazer e a etapa que agora descrevo, ao que comentou: "Ah, mas vocês vêm a brincar" :) Que desilusão, logo agora que estávamos mesmo mesmo a pensar numa carreira profissional no ciclismo...

Porto de Pesca em Setúbal














Mapa aproximado do percurso do dia:


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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porto - Lagos, 2ª Etapa, Figueira da Foz - Nazaré

97Km
04-06-2012

Este post relata a segunda de cinco etapas de uma viagem de bicicleta do Porto a Lagos. A primeira etapa pode ser lida aqui

Depois do pequeno almoço tomado e de um aquecimento a jogar à bola com a cadela dos donos do hostel PaintShop lá procedemos com o checkout e fizemos-nos à estrada. Nesta etapa começamos logo a meter água na navegação. Em vez de seguirmos as placas a dizer Leiria fomos até à praia para dali seguir para sul pela marginal. Um par de quilómetros depois estávamos parados a olhar para o mapa e a tentar perceber a melhor maneira de subir para a ponte que atravessa o Mondego. A ponte estava bem visível, o caminho para lá chegar de bike é que nem por isso. Em vez de voltar atrás decidimos continuar e cerca de um km depois lá encontramos uma placa branca a indicar Leiria só que estava acompanhada por outra que nos proibia de ir por ali.



Ainda disse ao Short que por ali íamos para a autoestrada mas ele olhou para a estrada e disse qualquer coisa do género "para a autoestrada temos de virar ali à frente à direita, nós vamos pela esquerda". Quinhentos metros depois estávamos a entrar para a autoestrada. Felizmente a autoestrada acabava ali perto, com a saída para a ponte sobre o Mondego mas nem por isso deixou de ser um dos troços mais aterradores de toda a viagem.

Atravessada a ponte decidimos que já tínhamos visto o suficiente de autoestradas ou estradas com perfil de autoestrada e seguimos por um caminho mais litoral, na tentativa de encontrar a N109. A estrada parecia-nos ir no sentido correcto mas não vimos placas durante uns quilómetros por isso o Short achou por bem parar e perguntar se estávamos no caminho certo, por incrível que pareça, estávamos mesmo, aquela estrada era a N109 que nos iria levar a Leiria.
Porque e que não fomos por aqui?
Se calhar era fácil demais...

No caminho para Leiria passamos por Amor. Analisando agora no mapa, calmamente e há distância, tipo treinador de bancada, era por aqui que deveríamos ter ido. Não seria necessário passar por Leiria, teríamos evitado a horrível N242 e ainda poupávamos alguns quilómetros. Esta N242 liga Leiria à Marinha Grande e em termos de estradas nacionais foi do pior que apanhamos porque tem bastante trânsito, muitos camiões e faixas bastante largas que potenciam grandes velocidades ao tráfego automóvel. Tem também subidas prolongadas e com bastante inclinação que para nós até seriam uns obstáculos divertidos de transpor não fosse estar a levar com tangentes de camiões a passar a alta velocidade quando nós nem conseguimos passar dos 15 km/h.

Concentradíssimo 
É fácil, segue, segue, segue...

Da Marinha Grande até à Nazaré a estrada faz-se muito bem e é bastante agradável. Chegamos à Nazaré por volta das 14h e depois foi só descer até à praia, esperando não ter de subir aquilo tudo na etapa seguinte. Às 14h30 já estávamos confortavelmente instalados e abrigados do forte sol na esplanada de um restaurante a almoçar.

Chegada à Nazaré
Biclas estacionadas
Ciclistas a almoçar
Sol e calor

Mais uma vez não tínhamos nenhuma ideia onde iríamos ficar hospedados mas na Nazaré não é preciso procurar, há um batalhão de mulheres munidas de cartazes a dizer "quartos, rooms, chambres" e a perguntar a tudo o que tem cara de ser forasteiro se precisa de um quarto. Lá nos decidimos ficar por um desses quartos cuja senhoria garantia ser em condições, "tem casa de banho privativa e tudo" e acrescentava "se quiserem podem levar as bicicletas para lá". A minha bike ficou na divisão polivalente que era marquise, varanda, ou como ficou mais conhecida "casa de banho privativa". O Short preferiu dormir com a dele... São gostos...

Casa de banho? Varanda? Marquise?
Eu hoje durmo acompanhado

Depois da sesta, houve ainda tempo para relaxar com uns banhos de mar. O Sol encontrava-se agora encoberto por nuvens e o calor já era. A água, essa estava excelente.

sábado, 16 de junho de 2012

Porto - Lagos - Primeira Etapa, Figueira da Foz

154 Km
03-06-2012

Este post relata a primeira de cinco etapas de uma viagem de bicicleta do Porto a Lagos.

O dia começou cedo, às 8:00 já estava a pedalar. Encontrei-me com o Short na Ponte de D. Luís I e dali continuamos em velocidade cruzeiro a papar quilómetros num dia que prometia ser longo. A primeira paragem foi no Furadouro para o segundo pequeno almoço do dia. Esta paragem demorou um pouco mais do que o previsto porque aparentemente fizemos um pedido muito elaborado, para o qual imagino que o homem que nos serviu tenha ido pesquisar os livros de culinária que tinha à disposição e possivelmente até tenha tido de recorrer à Internet. Isto de pedir café e torradas realmente não lembra a ninguém. 

Furadouro - à espera de umas torradas

Pequeno almoço devorado, montamos outra vez nas bicicletas e continuamos a pedalar, bastante ajudados pelo vento, em direção a S. Jacinto onde iríamos apanhar o ferry parra Aveiro. Em S Jacinto nova paragem técnica para meter combustível.



Quando lá chegamos ficamos a saber que o ferry tinha ido para a manutenção e que agora a travessia era feita através de uma lancha. A boa noticia é que na lancha ainda se podem transportar bicicletas, a má é que estas vão amontoadas na popa e amarradas por cordas. O Short passou o tempo todo que pôde junto da bike para a tentar acomodar de forma a não arranhar o quadro. É o que dá partir para aventuras destas com bike nova.

Short e as bikes amontoadas na popa da lancha
Paragem seguinte, praia de Mira para almoçar.


Praia de Mira

Da parte da tarde o ritmo baixou e a meu ver metemos água na navegação. Em vez de continuarmos por uma estrada municipal por onde o caminho seria provavelmente mais curto e com menos trânsito fomo-nos meter pela Nacional 109. No final de contas nem foi muito mau, esta nacional é bastante calminha e faz-se muito bem, pelo menos quase até chegar à Figueira onde tivemos de começar a pedalar para a primeira contagem de montanha do dia. Ultrapassado este "contratempo", foi sempre a descer a boa velocidade até às praias da Figueira da Foz.

Praia da Figueira da Foz

Como somos uns mestres daquela arte bem portuguesa do desenrrascanço é óbvio que não tínhamos qualquer marcação para pernoitar. Tempo portanto para o Short justificar o dinheiro que gastou no seu android e colocá-lo a procurar onde é que íamos dormir. O android portou-se bem e levou-nos até um hostel à maneira: The PaintShop.

The PaintShop Hostel

Depois de confortavelmente instalados tempo para o relax com uns mergulhos na praia da Figueira da Foz.




 
Se algum dia resolverem partir numa aventura destas, deixamos ainda uma pequena dica de borla: Não poupem no protetor solar. Estes foram os resultados mesmo aplicando um factor 50.